Colunistas
Motociclismo e a sociedade
Tenho visto diversos amigos decidirem pelo motociclismo estradeiro, ou seja, utilização da motocicleta apenas para longas distâncias, por estradas e rodovias de alta velocidade, por períodos longos e, até mesmo por viagens noturnas.
Quando ouço tais preferências fico, preocupado com esses amigos, pois a prática do motociclismo nos centros urbanos difere bastante das expectativas durante a condução de uma motocicleta ou de um triciclo nas estradas.
Em minhas viagens me preocupo com certos cuidados importantes que, de certa forma, diferem daqueles utilizados durante o uso da motocicleta no dia-a-dia nas metrópoles.
Tais diferenças vão desde a indumentária utilizada, independentemente dos equipamentos e acessórios de uso obrigatórios como capacete, luvas, jaquetas protetoras, etc., até as armadilhas com que somos surpreendidos nas estradas, mesmo naquelas de mão simples e, principalmente, naquelas de mão dupla.
As maiores surpresas diferem, um pouco, dos sustos constantes das ruas das grandes cidades. Sabemos que no trânsito urbano uma das maiores preocupações são as surpresas vivenciadas com o comportamento dos motoristas de carros e pedestres.
Uma porta aberta (de taxi ou não) durante o desembarque de um passageiro, uma mudança de direção sem a devida sinalização, um pedestre que atravessa entre os carros, outros que surgem pela frente de um coletivo parado em um Ponto de ônibus e, até, um vazamento de água encobrindo uma “cratera” que, quando não estoura o pneu e possibilita uma queda permite, pelo menos, lançar o motociclista há alguns metros de distância concorrendo por um atropelamento inevitável.
Quem de nós já não presenciou entregadores de gelo e água, na contramão de direção das estreitas ruas da cidade, com seus triciclos que saem arranhando latarias e assustando pessoas e motoristas, com suas manobras arrojadas, chegando a utilizar, apenas, uma das rodas dianteiras num equilíbrio fantástico?
Quem nunca se assustou com aquele pedestre que, com o sinal já aberto para o trânsito de veículos, insiste na possibilidade de chegar à outra calçada através de uma carreira sinuosa entre os carros e com uma maleabilidade típica dos grandes toureiros quando no desvio dos algozes chifres das feras prestes a saírem arrastadas para os açougues na Espanha?
Quem não possui uma dessas histórias pra contar?
No motociclismo estradeiro já possuímos a primeira e marcante diferença existente para o motociclismo urbano que é a constante velocidade elevada o que permite, é claro, andar o dobro da distância percorrida nos grandes centros urbanos, porém pela metade do tempo levado para percorrer essa mesma distância nas cidades, ou seja, podemos percorrer trinta quilômetros de estrada em dez minutos quando, na cidade (mesmo pelo “corredor”), percorremos quinze quilômetros apenas em, no mínimo, vinte minutos de funcionamento do motor.
Naturalmente sabemos que, com o aumento da velocidade aumentam-se as distâncias percorridas pelo veículo durante o tempo de raciocínio para uma frenagem necessária, o que reduz, em muito, a distância e o tempo levado pelo veículo até o obstáculo, o que aumenta, consequentemente, a probabilidade de uma queda ou uma colisão.
Nas rodovias, temos que observar, já por certa distância, os diversos objetos jogados por condutores de carros, caminhões e ônibus (mal-educados) que ainda acreditam que seus objetos lançados dificilmente ficarão na pista de rolamento e irão parar nos campos que margeiam as rodovias.
São pedaços de borracha soltos de pneus mal recauchutados, são calotas desprendidas, pedaços de canas (BR 101) e mesmo outras cargas que se desprendem das carretas e ficam atravessadas nas vias.
Buracos provocados por chuvas constantes, animais atropelados e, por incrível que pareça, alguns redutores de velocidades (quebra-molas) que sem qualquer comunicação vertical ou horizontal parecem, à distância, sombra de árvores nativas de beira das estradas, os maiores causadores de sustos e, também, de alguns acidentes.
A atenção deve ser sempre redobrada nas ultrapassagens, pois, uma latinha de energético que foi lançada, por um caminhoneiro desatento, exatamente durante uma ultrapassagem, pareceu-me um grande “cascudo” dado pelo Anderson Silva no alto do meu capacete, o que me obrigou a parar mais a frente para, além de respirar fundo e agradecer a DEUS pelo pior não ter acontecido, aceitar também as desculpas dadas por aquele incauto motorista que estará sempre na dúvida se foi, ou não, “enquadrado” no Art. 172 do CTB (atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou substâncias:
Infração média e multa) por sua irresponsabilidade cometida.
Amigos motociclistas. As histórias ouvidas, os casos ocorridos e as experiências vividas, nos mostram a importância de conhecermos as artimanhas na condução de nossas motocicletas e triciclos tanto nas ruas dos grandes centros urbanos mas, principalmente nas estradas e rodovias que cortam nosso país.
A preocupação constante com a vestimenta, o estado de conservação dos pneus, a manutenção preventiva, luzes, setas, freios e, principalmente a consciência e responsabilidade na condução dessas fantásticas máquinas que nos trazem tanto prazer, alegria e satisfação, são fatores marcantes de um motociclismo salutar.
Nunca sabemos ou conhecemos tanto e de tudo que não precisemos aprender mais. Conversar com amigos, desprovidos de vaidades e soberbas, trocar experiências, dirimir dúvidas e dividir conhecimentos, sempre farão com que nossas viagens e passeios sejam marcados pela alegria das novas amizades formadas, pela vitória das distâncias alcançadas e pelo prazer das histórias a serem contadas.
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