Colunistas

Motociclismo e a Sociedade

De quem será o corredor?

Conflito em tempos modernos


02/05/2016 13h49

Quando comecei a andar de motocicleta era o mês de abril de 1972, ou seja, a quarenta e quatro anos atrás, e como o mundo era totalmente diverso do que é hoje, inclusive o mundo motociclístico. Só para termos uma ideia, a quantidade de veículos de quatro rodas era aproximadamente dez vezes menor do que hoje, a população do Brasil era 110% menor do que é hoje, motocicletas rodando eram raridades, pois ainda não havia no país fábricas ou montadoras de motocicletas. Tudo que existia eram algumas raras aberturas de importação que o governo proporcionava, ou os leilões das motos das forças armadas e da polícia nas renovações de frota que esporadicamente aconteciam.

Motoboys, não existiam nem na imaginação do povo brasileiro, com isso nós motociclistas tínhamos poucas preocupações para pilotar nossas máquinas, pois com trânsito menos tumultuado e poucos pedestres nas ruas, as nossas maiores preocupações eram os trilhos dos bondes que ainda existiam em diversos bairros da cidade, muitas ruas que eram pavimentadas com os famigerados paralelepípedos e a compra de peças para as motos que eram difíceis de serem encontradas. Era raro o motociclista da época, que no mínimo, não houvesse tomado um susto com os trilhos e os paralelepípedos, ou que tivesse que algumas vezes adaptar peças de carro para colocarem suas motos para rodar.

Hoje o cenário é totalmente o contrário do da época. Tal o volume de veículos e pedestres que as preocupações dos motociclistas são tantas que até o corredor (espaço entre os automóveis) são disputados violentamente pelos veículos de quatro rodas, pedestres e motociclistas, todos se achando reais proprietários daquele exíguo espaço. E com isso, as brigas, confusões, batidas e até atropelamentos têm sido comuns naquele pedaço de asfalto.

Mas a pergunta que não cala: “Quem é o dono do corredor?” Se perguntado a cada um dos usuários todos terão fortíssimos argumentos para provar que é o legítimo dono do corredor de fato e de direito.

Alguns países de 1º mundo, tendo como carro-chefe os Estados Unidos da América legislou por lá que o corredor não é dos automóveis, dos pedestres e nem tampouco dos motociclistas, quem for pego transitando naquela estreita faixa é multado, ou seja, eles encontraram a solução para esse problema. Por lá as motocicletas têm que ocupar o espaço de um automóvel, seja com o tráfego parado ou em movimento. Eu particularmente entendo essa solução muito radical e sem propósito. Não vejo com bons olhos motocicleta presa no trânsito atrás de carros com o corredor livre. Entretanto, também não concordo com motocicletas rodando no corredor a 60 quilômetros ou mais, como é constantemente visto aqui em nosso país, pois é muito perigoso e muitas vezes fatal para o motociclista, motorista e pedestres.

Todos os Estados brasileiros através de seus legisladores, estão já há algum tempo debruçados sobre o problema “corredor e motociclistas”, e pelo que tenho acompanhado, há forte tendência de punir os motociclistas, os impedindo de rodar pelos corredores de trânsito, e sendo que parte da culpa dessa decisão, se a mesma vingar, será de nós mesmos. Pois se com o crescimento do trânsito nós fossemos ocupando o corredor com calma, devagar, respeitando pedestres e motoristas, o corredor hoje seria nosso sem necessidade de legislação específica. É claro que tenho consciência que muitos de nós sabemos andar adequadamente no corredor, mas o fato real é que existem vários motociclistas não o fazem, e ainda temos a agravante, que foram os motoboys que pelas características de seu trabalho fizeram com que a opinião pública pressionasse os legisladores para proibir motocicletas no corredor.

Eu particularmente uso o corredor da seguinte maneira: Se o trânsito está andando a qualquer velocidade ocupo o espaço de um automóvel e quando o trânsito para, vou para o corredor com velocidade pequena (de 20 a 30 Km por hora).

Não posso afirmar que essa é a melhor técnica, no entanto, posso assegurar que quando aponto no corredor com minha pesada custom, os motoristas me cumprimentam e a maioria daqueles que não estão alinhados com o corredor, consertam suas posições para que eu possa passar sem dificuldade.

Sonivaldo Vieira Leite
36 textos publicados

70 anos, Casado, Pai de 5 filhos, Engenheiro de Vôo Aposentado, trabalhou na Varig por 39 anos, Motociclista desde 1.972 ininterruptamente. Atualmente possue uma Road Glide Special 2019, Fat Boy 2017 e uma Rocker 2011.

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