Colunistas

Motociclismo e sociedade

Motociclismo com Direitos e Deveres, Amizade e Respeito.


01/05/2012 14h01

Existem algumas expressões usadas no nosso cotidiano que significam uma satisfação otimista do que ocorre ao nosso redor. Entre elas: “A vida está um mar de rosas”, ou, “O resultado está dentro do esperado”, e, finalmente, “Está tudo tão bom que, se melhorar, estraga”.

Transportando todo esse otimismo para a filosofia do motociclismo, reluto, mas afirmo que não estamos passando por um bom momento quando avaliamos alguns dos últimos acontecimentos presenciados nas ruas ou mesmo discutidos em nossas rodas sociais nos encontros e eventos que tenho frequentado.

Dentre tantos assuntos destacamos três deles que, se algo de imediato não for feito por nós e por aqueles responsáveis pelo cumprimento das leis, nosso otimismo poderá estar naufragando num mar “sem rosas”, completamente “fora do esperado ou planejado” e, tenderá realmente a “estragar” toda uma filosofia de vida que só tem dado mostras de que, quando queremos e fazemos algo pelo próximo, nem as barreiras do pessimismo serão intransponíveis ou insuperáveis.

O primeiro, e mais lamentável comentário, são os acidentes envolvendo motociclistas em todo o Brasil. Não é novidade para ninguém o crescimento do número de acidentes com vítimas, até fatais, onde, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Civil do Rio de Janeiro, chega a ser alarmante a mobilização do Corpo de Bombeiros para o resgate de acidentados com motocicletas nas principais vias que cortam o Centro do Rio incluindo aí as Linhas Vermelha e Amarela, Avenidas Brasil, Presidente Vargas e Rio Branco e os elevados da Perimetral, Gasômetro e Dois Irmãos, acreditando que não deva ser muito diferente nas demais metrópoles do País, principalmente, na grande São Paulo. A proporcionalidade dos acidentes já superou, em muito, o número de novas motos em circulação, ou seja, o aumento de acidentes ultrapassou o número esperado ou “projetado” levando-se em conta o número de novas motos vendidas nos Estados.

Como segundo aspecto comentado, nos direciona ao comportamento de alguns motociclistas que, sequer, respeitam ou cumprimentam seus semelhantes quando em suas máquinas, quer nas ruas das grandes cidades, quer nas estradas e rodovias. Apesar de saírem pregando verbalmente a fraternidade, igualdade e amizade, agem de forma antipática e sem qualquer companheirismo em nosso meio. Tal atitude pude constatar pessoalmente, durante um abastecimento, quando fui surpreendido com a chegada de quatro bi-cilíndricas importadas, onde, seus condutores lembravam aqueles antigos “cowboys” quando chegavam numa cidade do velho oeste americano. Suas “caras de Mal” jamais irão significar grande perícia ou pleno conhecimento na condução de suas máquinas, mas sim, um comportamento antipático e mal educado onde, na realidade, não passa de um “tipo” para parecerem os “donos do pedaço”. Incomodado com aquele comportamento, fiz questão de cumprimentá-los com um singelo “bom dia para vocês e uma boa viajem”. Para minha surpresa os encontrei em um evento, onde, dois deles vieram se desculpar pelo do comportamento e hoje são amigos e companheiros de estrada.

Finalmente, como terceiro e último aspecto escolhido, não posso me furtar em citar uma discriminação descabida e sem propósito, existente entre alguns escudados e aqueles que, por não quererem o compromisso do cumprimento de regras, estatutos e regulamentos impostos pelos Clubes, preferem, democraticamente, andarem em suas máquinas sozinhos ou mesmo acompanhados, mas que, ao chegarem a alguns eventos são até obrigados a pagar ingressos diferenciados por não serem “coletados”. Isso é de uma falta de consciência tão grande que, só não é maior do que as ridículas regras de alguns clubes que tratam os “PPs” como escravos e serviçais. Quando um de seus integrantes é afastado, estes são proibidos de ostentar outros escudos ou participar de novos clubes, sendo passíveis de intimidações e violências por parte dos demais integrantes. A meu ver, um motociclista que se submete a isso esquece seus direitos e garantias individuais tão citados em nossa Constituição maior. Tal autoritarismo fantasioso, postura, linguajar chulo, prepotências exacerbadas, etc,..só levam a destruição de grandes amizades e fogem aos objetivos precípuos de respeito ao próximo, à irmandade e a alegria por essa nossa paixão pelas duas ou três rodas.

Meus amigos motociclistas.

Temos lutado contra preconceitos que rondam o motociclismo nacional, independentemente de sermos escudados ou não, até porque não somos melhores que ninguém. A Caveira, símbolo do motociclismo por representar a igualdade, jamais pode aceitar comportamentos que venham a desvirtuar as finalidades de uma convivência sadia, de uma participação fraterna onde a solidariedade e o respeito deixam de ser prioridade, prevalecendo interesses estúpidos e vaidades pessoais.

Está na hora de fazermos uma reflexão sobre aqueles que insistem em querer denegrir uma filosofia de vida com comportamentos discriminatórios, anti-sociais, arruaceiros e que levam para brigas, discussões desnecessárias que, de forma nenhuma, representam o motociclismo. É hora de “virar a mesa” e não aceitarmos em nosso meio qualquer tipo de interferência para promoção própria e sem qualquer visão ou contribuição para um motociclismo sadio, alegre e fraterno.

Portanto, lutemos por nossos direitos de ir e vir com toda segurança, continuemos com nossas convicções de um motociclismo voltado para uma boa causa e, finalmente que, o gesto de um cumprimento, um aperto de mão ou um fraterno abraço sejam a marca de um ideal de vida, um ideal de amor ao próximo para que possamos dizer finalmente que, o motociclismo ainda é um “mar de rosas”.

Uma pequena homenagem aos irmãos que nos deixaram nesses últimos meses.

Boas estradas.

Cel Dario Cony
30 textos publicados

Coronel da PMERJ, já aposentado. Motociclista Brevetado, com o CFoMES - Curso de Formação de Motociclistas Escoltas e Segurança, concluído em 1979 na Instituição. Como Capitão, foi Coordenador de diversos desses Cursos no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Motociclista desde os 21 anos, é casado com Nádia Cony, e Presidente do Family Cony's Motocycle Group, RJ. Como experiente motociclista, é possuidor do Patch de 125.000 Milhas do HOG ( HARLEY OWNERS GROUP). Sua paixão são as estradas, as quais, curte com a sua conhecida " Negona III", uma Harley Davidson, Street Glide / Preta e Dourada, 2016. Seu sonho: Conscientizar os irmãos motociclistas que: " A Motocicleta é um meio de curtir a vida, e não, um objeto para buscar a morte".

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