Colunistas

Motociclismo e a Sociedade

Pare Siga

Novo Amor, Nova Vida


28/04/2016 09h20

Num evento em São José dos Campos, SP, fui indagado por um amigo, Presidente dos Canibais Moto Clube, se as minhas crônicas, baseadas em histórias de amor, eram embasadas em fatos reais ou, apenas, em romances fictícios, deixando o leitor na dúvida se eram verídicos ou não?

Fiquei meio sem jeito de explicar que, alguns dos casos foram totalmente verídicos e deles tirei inspiração para as linhas, porém, alguns desses casos sobre amores perdidos, os recebi de pessoas que nos chamam num cantinho e desabam em contar suas histórias sempre na intenção de vê-las publicadas, além de aproveitarem aquela oportunidade para mandarem algum “recadinho”, bom ou ruim, para alguém. Porém, é claro que, para um bom romancista (sobre o qual não me incluo), sempre haverá uma “dose” de fantasia inspiradora, principalmente quando não queremos identificar os fatos e os protagonistas.

E assim aconteceu, mais uma vez, durante um evento em Paulínia/SP onde, numa roda de amigos, conheci um grande sujeito, que me foi apresentado apenas como Lino, amante das Big Trails, com seus quase quarenta anos de idade, boliviano de Santa Cruz de La Sierra, mas, paulista por opção, devido sua carreira de medicina ter sido aplicada no interior de São Paulo. Depois de um bom papo sobre as vantagens de sua motocicleta nas estradas de terra, deu por me contar sua história de amor, na expectativa que eu a transformasse numa crônica onde, na verdade, estaria mesmo era homenageando uma pessoa.

Contou ele que, numa de suas viagens para Joinville/SC, no inicio de ano de 2009, num desses “Pare e Siga”, altura do município de Registro, nosso amigo ficou parado por cerca de 20 minutos devido a necessidade de reparos em uma das pontes da BR 116, onde era utilizada apenas uma pista de rolamento. O critério para liberação do trânsito era o mais simples possível e bem tupiniquim, ou seja, ao último motorista do carro liberado, era entregue um bastão, com um pano vermelho, que era repassado ao fiscal, do outro lado do percurso e, esse liberava o transito em sentido contrário, até que um ultimo, daquele sentido, o levaria de volta permitindo a liberação de uma espera, por vezes, de quinze a vinte minutos.

Nessa parada, nosso amigo conheceu uma jovem motociclista estradeira, carioca, com seus quase trinta anos, de linguajar simples e educado, muito simpática e com atitudes bem definidas ao descer da moto. Tinha cabelos negros, curtos e escondidos em uma bala-clava, observado quando da retirada de um belo Shoei escamoteável. Razoavelmente alta, totalmente equipada com roupas especificas para viagens longas, e que ostentava a marca de sua, também, Big Trail, porém de cilindrada menor a de nosso interlocutor. Após algumas trocas de opiniões sobre suas motocicletas (da mesma montadora), foi acordado entre ambos que iriam juntos até o destino, a Cidade de Joinville, onde lá estaria por se iniciar um grande evento motociclístico. Naturalmente que as seguidas paradas, necessárias para abastecimento e hidratação, quase que dobraram, pois, ele não poderia perder a oportunidade de, a cada uma dessas, apreciar aquela Nefertiti de cabelos negros e curto, mesmo que ensopados pelo calor da estrada.

E assim foram conversando, se conhecendo a cada parada, por cerca de quase 370 Kms rodados entre o desvio e o ponto final. Lá hospedaram-se em pousadas distintas, pelo menos no primeiro dia, pois, após curtirem o evento, ouvirem músicas marcantes, e tomarem algumas “geladas”, finalmente surgiu uma grande paixão, um grande interesse em ficarem juntos, tudo aquilo iniciado num “bendito” Pare e Siga da estrada.

Porém havia um grande problema. Nosso amigo era casado, morava no interior do estado onde atuava como médico concursado, além de possuir consultório próprio para complementação de renda, e teve, finalmente, que confessar sua situação civil para aquela que havia lhe trazido tantos momentos de prazer, de alegria e intensa paixão de um final de semana. Para aquela linda mulher foi uma grande surpresa, uma vez que, nem marca do símbolo de um matrimônio, uma aliança, havia em seu dedo anelar esquerdo, o que a levou a julgar ser um solteirão, ou no máximo um divorciado.

Diante daquela confissão, senti-me frustrado e já julgando que aquela seria mais uma história, entre tantas, com inicio, meio e fim, num mesmo final de semana. No entanto para minha surpresa, naquele momento, vejo aproximar-se dele, uma bela senhora, muito parecida com as características narradas no início da dissertação. Com a chegada dela ele disse: Amigo, essa é a Teresa, minha mulher. Após abraça-la e beija-la, ele complementa com a seguinte fala: Essa é a minha paixão das estradas, o motivo de toda a minha história, de toda a história que acabei de lhe contar.

Após passados quatro meses daquela aventura acontecida em Joinville, aquele encontro motociclístico, aquele excitante e explosivo final de semana, nosso Doutor decidiu divorciar-se de um casamento de sete anos, porém desgastado e sem emoções, decidindo por procurar aquela “deusa” sobre duas rodas e, hoje, após seis anos de relacionamento, formam um belo casal, motociclista, estradeiro que, a cada oportunidade que a vida lhes permite, pegam a estrada e retornam a recordar aqueles primeiros momentos onde selaram uma paixão que só a motocicleta consegue fazer.

Fiquei feliz pelo relato final, lamentando apenas, que aquele evento de 2009, tenha sido um motivador para o final de um matrimonio, mas que, assim como terminou um enlace, também fez surgir um novo amor, gerando uma pequena e linda menina, hoje com 4 anos de idade, chamada por Ana Cristina, e que, certamente será uma nova futura motociclista estradeira.

Por fim, amigos motociclistas. Se o objetivo da historia narrada era uma homenagem àquela escolhida, acredito que o recado foi dado.

Boas estradas.


Cel Dario Cony
30 textos publicados

Coronel da PMERJ, já aposentado. Motociclista Brevetado, com o CFoMES - Curso de Formação de Motociclistas Escoltas e Segurança, concluído em 1979 na Instituição. Como Capitão, foi Coordenador de diversos desses Cursos no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Motociclista desde os 21 anos, é casado com Nádia Cony, e Presidente do Family Cony's Motocycle Group, RJ. Como experiente motociclista, é possuidor do Patch de 125.000 Milhas do HOG ( HARLEY OWNERS GROUP). Sua paixão são as estradas, as quais, curte com a sua conhecida " Negona III", uma Harley Davidson, Street Glide / Preta e Dourada, 2016. Seu sonho: Conscientizar os irmãos motociclistas que: " A Motocicleta é um meio de curtir a vida, e não, um objeto para buscar a morte".

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