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Motociclismo e a sociedade

Programar uma viagem! Será que eu sei?


09/06/2020 13h38

Outro dia, conversando com um amigo motociclista, fui indagado sobre o motivo de não ter escrito sobre minha viagem, de 20 dias, nas estradas, no final de 2017, por todo o Sul do Brasil. Realmente foi uma distração, pois, aprontei o texto, mas acabei esquecendo de publicá-lo nem sei porque motivo, acreditando ter sido devido a “minha idade” passando dos 62 anos quando, começamos a esquecer de certos compromissos.

Mas, longe de qualquer vaidade ou soberba, torno público o texto para aqueles que, gostam de planejar e programar viagens por alguns longos dias.

Desde 2008, quando me aposentei do serviço ativo, venho tomando o meu tempo com algo extremamente prazeroso e, principalmente, confirmando aquilo que sempre ouvimos em nossos encontros de motociclistas, ou seja, que o Motociclismo, nada mais é do que, uma Filosofia de Vida.

Naturalmente que, quando queremos fazer uma viagem por mais que um simples final de semana, sabemos ser necessário ter um planejamento abrangendo alguns aspectos importantes como: a quantidade de dias na estrada, locais por onde passar, tipo de pavimentação, acesso a rede de abastecimento, quilômetros a serem rodados por dia, locais de repouso, peculiaridades de cada cidade ou lugarejo, por onde iremos passar, documentação necessária e obrigatória, legislação vigente sobre trânsito exigidos em determinados países, hábitos e costumes normais a cultura de cada lugar e, principalmente o binômio “Custo / Benefício”.

Após alguma experiência já beirando os 350 mil quilômetros de estradas do Brasil, alguns países do Mercosul e passeios na terra dos Yanques, acredito que, sempre será possível programar e planejar uma viagem dentro de nossas posses, uma vez que, aliado a aventura em andar de motocicleta, sempre encontraremos locais para pouso que nos trazem um mínimo de conforto necessário após 7, 8 ou 9 horas de estradas, uma boa alimentação, alguma estrutura básica e de apoio logístico caso necessário (farmácias, lavanderias), isso tudo se não formos pensando em tantas mordomias, refeições Gourmet, bebidas de custo muito alto e, principalmente, se estivermos desprovidos de vaidades pessoais que, as vezes, nos trazem certas dores de cabeça por ter optado pelo errado e desnecessário. O importante é o necessário para nos sentirmos seguros, felizes com os novos conhecimentos e ensinamentos onde, as possíveis decepções não trarão um desânimo para novos planejamentos.

Todo esse “pequeno” introito foi para dividir com os amigos, um planejamento de 20 dias que fiz, durante o mês de Dezembro de 2017, ao qual batizei de “Projeto Natal Luz”, onde, o ponto forte foi passar o Natal na linda Cidade turística de Gramado/RS e o Reveillon em Florianópolis/SC, tudo isso acompanhado da minha garupa, Nádia Cony, agora recém-aposentada, mesmo carregando consigo uma prótese na coluna com, quatro lindos parafusos de 6 cm, com rosca soberba, cabeça sextavada, e três hastes de titânio na lombar, especificamente entre as vertebras L4, L5 e S1 (tá com tudo e não tá prosa).

Saímos de casa, no Recreio dos Bandeirantes/RJ, num domingo nublado, naquela manhã de 16 de Dezembro, com destino a São José dos Campos/ SP. Foram 360 Km rodados, com direito há uma parada no Santuário de Aparecida do Norte/SP, rogando proteção por todas as estradas que ainda viriam. A hospedagem, como de costume e, por conhecer bastante, foi num dos hotéis da Rede Ibis, com um custo de pouco mais de R$100,00. À noite, um rápido passeio pela Cidade, sempre á pé, para exercitar as pernas.

Na manhã seguinte, 17 Dez, o destino era a Cidade de Apiaí/SP, passando por Sorocaba, Capão Bonito, e curtir, mais uma vez, a famosa Serra do Rastro da Serpente. Tal nome se refere ao grande número de curvas existentes até Colombo/PR.

Como planejado, após 410 Km de “embreagem solta”, um passeio pela Cidade com visita aos pontos de interesse. O Hotel foi o Golden-In, no Centro, no valor de R$100,00 (com café da manhã). No dia seguinte, partimos para completar o resto da Serra, agora, com uma leve garoa que nos obriga a ter maior cuidado. Passamos por Ribeira, Colombo, Bocaiúva da Serra, São José dos Pinhais já no Paraná e, após 297 Km chegamos em Joinville/SC, cidade industrial de Santa Catarina onde nos hospedamos em mais um Ibis.

De Joinville/SC, partimos para a conhecida Urubici, no alto da Serra Catarinense. Apesar do Verão, Urubici é uma das cidades mais frias do Estado e, não foi diferente naquela noite onde, a manta foi necessária. Um rápido passeio pela rua principal, visita e Catedral, ao Morro da Igreja e depois, “berço” para mais um merecido descanso.

De Urubici partimos para Bom Jardim da Serra, onde começa a fantástica, e ambiciosa, Serra do Rio do Rastro. Uma das Serras mais exóticas do mundo que, lamentavelmente, não nos permitiu enxergar nada, pois, coberta pelo nevoeiro, desde o Mirante até a parte baixa em Lauro Muller, só passando a fazer parte do currículo da Nádia, que ganhou um Patch para enfeitar seu colete.

Da serra partimos para Torres/RS. Como o planejado, queríamos conhecer a Cidade e, também, conhecer mais um membro do clã dos Cony's.

Em Torres, fui recebido pelo Primo, Fernando Cony que, numa rápida troca de lembranças, fui agraciado com um par de talheres de prata, familiar, com cerca de 150 anos. Em retribuição e, por ter que dar algo de metal (quando se recebe uma faca de alguém), agraciei-lhe com o meu relógio Tecknos estradeiro, não sem antes, e humildemente, pedir-lhe que não levasse em consideração a diferença dos valores sentimentais. Foi um ótimo momento.

Na manhã seguinte, após rodar pelos pontos turísticos de Torres, as praias, o morro do farol, etc, partimos para a linda Cidade de Canela/RS, passando pela Serra Gaúcha, de beleza admirável, além de um trânsito típico dos Europeus onde, todos respeitam todos. Na cidade nos hospedamos na Pousada Cammino Della Serra, espetacular. Essa eu recomendo.

Canela/RS é uma típica cidade turística onde assistimos o show de Luzes e Som da Catedral de Pedra e nos deliciamos com uma Pizza rápida na Toca da Bruxa. Pela manhã uma esticada a Caxias do Sul, (onde pernoitamos), com visita ao Parque da Festa da Uva, Monumento Nacional ao Imigrante, Igreja de São Pelegrino, e ao Museu de Ambiência Casa de Pedra, com 138 anos e preservada pela Prefeitura, retornando para Canela na manhã seguinte.

De Canela, fomos para Gramado (5 Kms apenas), na noite de 24 para 25, onde assistimos a linda apresentação do Natal Luz, com desfiles de Carros alegóricos de diversos significados como: Sonho, Paz, Liberdade, Amor, Esperança, artistas em um Presépio simbolizando o nascimento de Cristo e, finalmente um enorme trenó com o Bom Velhinho, tudo isso precedido de uma chuva artificial de Neve que, emocionantemente, marcava o final daquela apresentação Natalina. E assim foi nossa noite de Natal.

Pela manhã partimos para Porto Alegre e fomos conhecer alguns outros Cony's, os quais nos receberam com um maravilhoso churrasco autenticamente gaúcho. Dois dias na Capital Gaúcha nos permitiu conhecer diversos pontos turísticos tradicionais, mais alguns Cony's e uma rápida visita há alguns amigos cavalarianos, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, de quem fui agraciado com uma camisa do Vice-Campeão Mundial de Clubes, o Grêmio. Finalmente uma visita à Loja Harley Davidson em POA para uma geral na Negona que, até aqui, se portou perfeita como uma grande estradeira.

No dia seguinte, bem pela manhã, partimos para a linda Cidade de Laguna/SC. O tempo estava maravilhoso e pudemos curtir os 375Kms rodados. Uma noite, e parte da manhã, foram o suficiente para conhecer aquela linda cidade costeira, pois, queríamos chegar, ainda, durante o dia em São José/SC, onde presenciaríamos o Reveillon em Floripa.

Em São José, como Base de repouso, fomos rodar por Florianópolis. Passamos pela Lagoa da Conceição, Praia dos Ingleses, Joaquina, Jurerê Internacional, Costão do Santinho, diversos bairros de Floripa e uma visita à Loja da Harley Davidson. No início da noite do Dia 31, tive o prazer de voltar ao Centro de Ensino da Policia Militar, onde residi em 1999, durante um Curso naquela cô-irmã, e assistir a missa de final de ano, na Capela Militar daquele Centro, na qual matei as saudades de um grande amigo, o Coronel Capelão, Padre Waldemar, com quem eu sempre estava, aos domingos, na Missa das 19:00h durante aquele ano. Foi um momento de muita emoção revê-lo e receber a benção feita, por ele, em minha motocicleta, depois de 20 anos.

A “Zero Hora” pude curtir com a Nádia, o Reveillon de Florianópolis, na Av. Beira Mar Norte. Um show de fogos bem semelhantes a nossa Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Por fim, no dia 3, comecei o retorno, com a proteção de N. Sra. Aparecida, que me protegeu das intempéries e me afastou das armadilhas das estradas, passando por Balneário, Morretes, subindo a Serra da Graciosa, pousando em Curitiba/PR. De lá, na manhã de 4 de Janeiro, partimos pela BR 116, passando por Registro/SP, Tabuão da Serra, pelo Anel Rodoviário Mário Covas (fugindo da Marginal Tietê), indo até Guarulhos/SP, Onde pernoitamos em mais um Ibis. Pela manhã do dia 5, partimos para a nossa última “perna de estrada”, descendo toda a Rodovia Presidente Dutra, semore na companhia da Rádio Nova Dutra, que nos passava a situação de toda a rodovia.

Caros amigos estradeiros;

Foram 20 dias nas estradas do Sul, por 4.500 Kms, conhecendo cidades maravilhosas, momentos e locais mágicos, recebendo o carinho dos Cony's do Sul, tudo na companhia da minha querida Nádia, além da presença de Deus em todos os momentos já narrados.

Hoje, passados quase três anos dessa aventura, rendo-me a vontade de dividir, com todos vocês, esse sonho realizado. De lá para cá, fiz algumas outras grandes viagens como: para o Uruguai, entrando por Santana do Livramento, Rivera, Taquarembó, Colonia do Sacramento, Montevidéo, Punta Del Leste, La Paloma, Chuí, e voltando por toda a BR 101 e 116, em 9 dias de estradas. Por fim, em 2019, fui até Barra do Garças, limite entre os Estados de Goiás e MT, sendo esta minha última grande viagem por 7 dias.

Hoje, aos 65 anos, só posso dizer que, valeu a pena tudo isso, valeu a pena todo esse esforço, valeu a pena ser motociclista estradeiro. Infelizmente, esse nosso 2020 nos desanimou muito devido a essa Pandemia que está assustando todo o Mundo. No entanto, rogo a Deus em minhas preces que, tudo isso passe o mais rápido possível para que, mesmo em sendo uma última viagem (a idade já pesa um pouco), possamos curtir mais uma aventura, estimulando, assim, aos mais jovens que, nossa paixão, pela motocicleta, pelas estradas, pelos locais por onde passamos e pelas amizades que fazemos nesse recantos todos, nos leve a dizer: “Cheguei aos 65 anos rodando pelas estradas e posso afirmar que vivi a vida, plenamente, em cima de duas rodas.

Boas estradas a todos.

Cel Dario Cony
30 textos publicados

Coronel da PMERJ, já aposentado. Motociclista Brevetado, com o CFoMES - Curso de Formação de Motociclistas Escoltas e Segurança, concluído em 1979 na Instituição. Como Capitão, foi Coordenador de diversos desses Cursos no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Motociclista desde os 21 anos, é casado com Nádia Cony, e Presidente do Family Cony's Motocycle Group, RJ. Como experiente motociclista, é possuidor do Patch de 125.000 Milhas do HOG ( HARLEY OWNERS GROUP). Sua paixão são as estradas, as quais, curte com a sua conhecida " Negona III", uma Harley Davidson, Street Glide / Preta e Dourada, 2016. Seu sonho: Conscientizar os irmãos motociclistas que: " A Motocicleta é um meio de curtir a vida, e não, um objeto para buscar a morte".

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