Colunistas

Motociclismo e a Sociedade

Um amor, um gole e um golpe


03/11/2015 12h19

Tenho sempre a sorte de fazer novas amizades durante minhas viagens por esse "brasilsão". Essas amizades começam sempre por assuntos ligados ao motociclismo, viagens e lugares visitados, motocicletas e suas especificidades, lembranças de moto-clubes amigos, ou mesmo, quando sou reconhecido pelos textos publicados no Jornal Motocycle e no Site Mototour. Confesso que fico, até perplexo com a amplitude das matérias publicadas através desses dois meios de comunicação especializados, que alcançam lugares longínquos como, Barretos/SP, Formosa/GO, Bonito/MS, Araxá/MG, Brasilia/DF, etc,etc, onde, sempre tem alguém curtindo e lendo sobre essa nossa paixão chamada motociclismo.

Em uma de minhas viagens recentes, para um evento motociclístico em um pequeno município do Estado de São Paulo que, por questões de fidelidade e a confiança a mim depositadas, me permito não citar o nome. Lá, fui surpreendido com uma história, de certa forma bem triste, que me foi revelada por uma moça motociclista, com seus quarenta e poucos anos de idade, leitora assídua dos colunistas do jornal e do site. Para minha surpresa, e quase que como decorado, ela relembrou de um de meus textos chamado Um amor, uma distância, o qual contava uma linda história de amor onde, a inevitável separação dos dois somente se deu por motivos continentais, onde ela teve que voltar para um outro país onde trabalhava.

A princípio, julguei que tal conversa poderia estar sendo motivada por alguns goles de algum destilado. No entanto notei, logo logo, a total sobriedade daquela bonita motociclista escudada, muito bem vestida com uma calça Jeans, cerzida nos joelhos, uma bela blusa azul clara, consideravelmente decotada, que fazia destacar um fino cordão de ouro com um pingente em forma de uma pequena Custom, punhos brancos e, uma pequena flor de lis, bordada, na altura do seio. Seu cabelo curto, liso e bem escuro, era quase que totalmente engolido por uma touca branca de Croché onde sobressaía uma minuscula franja, charmosíssima, que quase encobriam seus lindos olhos amendoados. Nos pés, uma linda bota azul marinho caracterizando seu gosto pelo tradicional tom sobre tom onde essa cor predominava.

Após alguns elogios sobre os textos já lidos e uma rápida apresentação formal com um aperto de mão e um único e típico beijo paulista na face, a linda moça, subitamente, relata ter tido um grande amor, nascido num desses encontros motociclísticos, sobre o qual parecia muito com aquela paixão descrita no texto Um Amor uma distância, mas que, a distância não teria sido o motivador do fim daquela história de amor, mas sim, e lamentavelmente, o álcool.

Quando ela disse aquilo, fiquei surpreso em estar ouvindo, de uma linda mulher, uma historia que me pareceria igual a tantas outras que conhecemos onde, a bebida ou o uso exagerado do álcool, teria sido o protagonista de mais um desenlace, de mais um fim de relacionamento, ou mesmo o final de mais um grande amor surgido e motivado pelas duas rodas.

Ela, por sua vez, desarmada pela saudade e pelas lágrimas que surgiram em seu rosto, disse-me com a voz embargada: Fiz de tudo para que ele se afastasse da bebida sem limites, das amizades demoníacas do uso do álcool, e da incrível sensação de que, mesmo muito alcoolizado, afirmava estar, sempre, em condições precisas para pilotar sua moto.

Na saída de um desses grandes eventos, por volta das 02:00h da madrugada, aquele jovem motociclista, no auge de uma vida já independente, pegou sua esportiva, uma japonesa de 1300 cilindradas, acessando a Rodovia Raposo Tavares, na qual fez sua ultima viagem terrena, pois, numa curva de média velocidade, levado pela confiança demasiada, traçou apenas uma reta, deixando pára trás, além de alguns amigos que o acompanhavam, também um grande amor, uma grande paixão.

Meus amigos motociclistas. Não foi a primeira e nem será a última vez que falaremos desse hábito descabido que é o uso excessivo de bebidas alcoólicas acompanhado pela certeza de que, seu uso, exagerado ou não, nunca interferirá em seus reflexos durante a condução de uma motocicleta. Aliado a essa causa, é nítido que, alguns desses usuários deveriam sim, lutar por um tratamento, pois, o uso indiscriminado, quase que todos os dias, sem motivo justo ou lógico, ou até mesmo como forma esporádica por julgar necessário comemorar algo sem qualquer importância, até mesmo, por uma vitória futebolística, nada mais é do que, o alcoolismo como doença, que merece uma atenção toda especial por parte daqueles que nos rodeiam e, principalmente, por parte daqueles que julgamos serem nossos verdadeiros amigos. À você, amigo motociclista, que não consegue enxergar esse mal silencioso, pense: Existirá sempre um Amor triste que foi, ou ainda será derrotado por aquele Gole e que trará um grande Golpe causado pelo álcool. Ainda é tempo de preservarmos o prazer de um grande amor.

Boas estradas.

Cel Dario Cony
30 textos publicados

Coronel da PMERJ, já aposentado. Motociclista Brevetado, com o CFoMES - Curso de Formação de Motociclistas Escoltas e Segurança, concluído em 1979 na Instituição. Como Capitão, foi Coordenador de diversos desses Cursos no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Motociclista desde os 21 anos, é casado com Nádia Cony, e Presidente do Family Cony's Motocycle Group, RJ. Como experiente motociclista, é possuidor do Patch de 125.000 Milhas do HOG ( HARLEY OWNERS GROUP). Sua paixão são as estradas, as quais, curte com a sua conhecida " Negona III", uma Harley Davidson, Street Glide / Preta e Dourada, 2016. Seu sonho: Conscientizar os irmãos motociclistas que: " A Motocicleta é um meio de curtir a vida, e não, um objeto para buscar a morte".

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