31/03/2014 11h00
Na edição de março de 2012, escrevemos uma crônica citando os problemas causados por essa tradição, esse hábito quase secular, que é “Soltar Pipas”.
Quem de nós nunca curtiu aquele momento de fazer uma pipa, uma “rabiola”, um cabresto (de dois ou de três) passar um “cerol fininho” e, gastar um “déiszão” para buscar alguém bem longe e poder “entrar na mão” daquela outra pipa?
Todo esse linguajar é para que possamos matar a saudade desse hábito, dos períodos de férias escolares de final de ano. Digo matar a saudade, pois, esse hábito virou uma forma criminosa, sem precedentes e que, a cada dia, vem ceifando vidas de inocentes e, principalmente, motociclistas.
Nesses dois últimos dias, passamos a enxergar “Uma Linha (sem cerol) no fim do Túnel” quando somos prazerosamente surpreendidos com duas grandes apreensões de produtos voltados para essa prática e, principalmente, por terem sido “estouradas” duas grandes fábricas produtoras dessa perniciosa “linha Chilena” que, por onde passa, quando usada por pipeiros, consegue causar estragos irreparáveis e, até, tirar vidas humanas.
Uma das fábricas foi “estourada” por policiais da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima,do Rio de Janeiro, e era situada no bairro da Curicica, Jacarepaguá/RJ, onde foram encontrados, após denúncia anônima, milhares de rolos de linhas prontos para a venda, além de grande quantidade de produtos para a sua confecção. No local, um homem foi preso e um menor apreendido, ambos em plena atividade.
O proprietário, Carlos Moraes Teixeira é considerado fugitivo, uma vez que, não estava no local.
A outra feliz apreensão foi efetivada por Policiais Militares da Unidade Ambiental, no bairro Arsenal em São Gonçalo, também no RJ. Lá também foram encontrados centenas de rolos prontos para comercialização. Meus amigos.
Não poderia ser tão hipócrita ao ponto de não dizer que, em minha infância cheguei a colocar muito vidro na caneleta do trilho do saudoso bonde e que, ao final da passagem daquele tradicional meio de transporte, obtínhamos o melhor, e mais bem moído vidro, para a confecção do cerol que, depois de peneirado na “meia da mamãe”, e misturado na cola de madeira derretida em água, teríamos a linha “10” mais poderosa das pipas no céu.
Mesmo assim, não consigo me lembrar, de qualquer acidente de degola de uma pessoa provocada pelo antigo cerol, a não ser, alguns poucos casos de usuários mortos por choque elétrico pelos fios de alta voltagem atingidos por “pipeiros”, diferentemente dos atuais acidentes causados por essa chamada e mortífera Linha Chilena.
Por fim, ainda temos a esperança de que, respeitando nossas tradições em suas essências, também passemos a respeitar a Lei 3.673 de 2001 que proíbe industrialização e a comercialização do produto denominado CEROL, para que não percamos mais tantos amigos motociclistas, e outros inocentes, além de conseguirmos ver, no final do túnel, um horizonte de paz e harmonia entre o tradicional e o moderno, entre a liberdade e a alegria e entre o amor e a paixão que nutrimos pelo motociclismo.
Boas estradas.