Diário de Bordo
Internacional
Deserto do Atacama
Tudo começou ao ler uma publicação sobre uma Expedição para o Deserto de Atacama para despertar em mim um sonho que sempre existiu. Nasce então a oportunidade de realização deste que acredito ser o sonho de todo motociclista, de todo aventureiro, de todo ser que vibra ao ouvir o som dos motores da motocicleta, que delira ao sentir o vento no rosto, que se enlouquece no melhor sentido da palavra ao contemplar o céu, as paisagens, as curvas e retas da estrada, que parecem não ter fim. Decisão tomada, detalhes acertados, apenas aguardar os dias, as horas, os minutos e segundos para o esperado dia 06 de janeiro de 2016.
Iniciada a contagem regressiva, ao mesmo tempo em que passava a fazer parte de meu repertório de confidências aos amigos, parentes e demais conhecidos, meu projeto para janeiro, quando conquisto mais um adepto para a aventura. O companheiro do VMD Moto Clube, Maurício, encara a aventura e decidimos sair juntos de Belo Horizonte em destino a Foz do Iguaçu no Paraná, de onde sairia a Expedição. Tudo acertado para o domingo, dia 3 de janeiro de 2016.
Às 8 horas da manhã, aguardo o companheiro em minha “Frida”, uma BMW GS 650, em um posto de gasolina, quando ouço o ronco de sua Harley Davidson, Heritage.
Saímos de Belo Horizonte no sentido de Capitólio, às margens da represa de Furnas onde almoçamos uma deliciosa traíra e continuamos a viagem, acompanhados agora da chuva que parecia querer lavar nossa alma até atingirmos o território do Estado de São Paulo. Anoitece e procuramos descansar em Bauru/SP, totalizando 800 km.
Amanhece e continuamos nossa jornada que termina à noite em Foz do Iguaçu no Paraná.
Agora não somos apenas uma dupla de motociclista e sim 10 Motocicletas e um carro de apoio com a Dirlene e o José Castanho. Time de motociclistas com brasileiros de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Brasília, Paraná, todos devidamente preparados para iniciar a expedição a partir de Foz do Iguaçu. Tudo acertado tanques abastecidos, informações sobre o percurso dados e definidos a composição do grupo pelo guia da expedição, o Everson da Mototour.
Conforme combinado, no dia 6 de janeiro pela manhã, seguimos rumo à Aduana para entrada em território argentino. Primeira hospedagem em Pres. Roque Saens Peña. No dia seguinte, chegamos à Salta, lugar aconchegante, com seus atrativos turísticos como o Teleférico San Bernardo, com vista de toda a cidade e um espaço com feira de artesanato e parque prazerosos. Lá embaixo, me encanto com o charme e o requinte do Teatro Provincial de Salta, uma visita obrigatória para mim, pois sou Ator também. Miragens no percurso como do Pampa Del Infierno, Dique la Cienaga e um visual deslumbrante. Em Jujuy atingimos a altitude de 4.170 metros, parada obrigatória para fotos.
Em Susques, parece que adentramos um velho oeste americano. Mais uma noite de sono e Chá de coca para manter os sentidos e seguirmos para o Paso de Jama e fazer a travessia para o Chile. San Pedro de Atacama está a 157 km após atravessarmos um cenário encantador.
Em San Pedro de Atacama, uma província explorada por turistas de todo o mundo, dois passeios são imprescindíveis. Valle de La Luna, para apreciar o pôr do sol às 20 horas com vista dos vulcões chilenos e os Geysers del Tatio, maravilhoso campo geotérmico entre Calama e San Pedro de Atacama, mas foi passando por Vado Putana e Machuca, dentro da Ruta del Desierto, que percebi estar em um cenário digno da literatura latino americana tão presente no imaginário andino.
Para estes passeios deixamos as motos descansando no hotel para somente no outro dia seguir pela rota costeira com destino ao Pacífico. Nesta altura da viagem ver o mar, pareceu mesmo uma miragem. Chegar ao Mirante La Portada foi para mim um presente de aniversário no dia 12 de janeiro, quando completava meus 53 anos de vida.
Antofagasta, La Colonia Española, como é chamada desde 1810, também merece ser visitada e apreciada. Conhecemos também Copiapó, que sofreu no ano passado com um “acidente” ao exemplo do que atingiu a região próxima de Mariana em Minas Gerais. As consequências ainda visíveis marcam as antigas casas do lugar.
Em La Serena, o Oceano Pacífico nos convidou para nos deliciarmos nas areias deste belo litoral chileno. Nada como relaxar nas caminhadas de praia antes de seguir para a capital Chilena, Santiago, com sua arquitetura, o patriotismo com suas bandeiras do Chile empunhadas em todos os cantos. Suas praças, o eficiente metrô e o agradável Mercado Central. Sair do Chile rumo à Argentina por Mendoza, Villa Maria e Vera rodeando a Cordilheira dos Andes é sensacional. Posadas à beira do Rio Paraná, que divide Argentina e Paraguai merece ser visitada. Chegar a Foz do Iguaçu e comer um prato com feijão depois de quase 20 dias também é uma coisa de dar água na boca.
Agora, só eu e minha companheira “Frida” no retorno até Ribeirão Preto para tomar uns chopes gelados, passar a noite e em seguida esticar os últimos 500 km até Belo Horizonte, tendo percorrido 9.580 km de descobrimento e encantamento, inspirado pelo argentino Ernesto Che Guevara e com muito mais respeito e admiração por nossa América Latina. Viajar é bom. Viagem de moto é muito melhor!
Marcelo Borges
Todos os Direitos Reservados