Diário de Bordo

Nacional

Mototour Fest e Costa do Descobrimento.


03/02/2012 22h46

Sem conseguir driblar circunstâncias de trabalho, minha XT e eu estávamos desde novembro longe das estradas. Os pequenos trajetos que vínhamos percorrendo estiveram muito longe do sabor que só uma viagem de verdade proporciona. Tal angústia só terá fim em abril, já que meu destino para Floripa, para o encontro do XT660.net, já está devidamente traçado.

Mas por sorte minha, nesse meio tempo, mesmo sendo perto de casa, aproveitei o encontro de Prado (BA) para matar a saudade daquela sensação provocada pela tríade XT/ estrada/ natureza, e depois de alguns arranjos feitos, me vi numa sexta-feira em um comboio eclético de motos custons, trails e esportivas para cumprir os 220 km, de asfalto, entre Porto Seguro e a acolhedora cidadezinha no extremo sul baiano.

Viagem tranqüila com todos afinados a um mesmo objetivo: prazer em estar na estrada. Tudo indo muito bem até que em uma reta, a mais ou menos 120 por hora, surge um cachorro saído repentinamente do mato e vai para cima da Falcon, moto do irmão que puxava a fila. Com muita habilidade e muita sorte, ele conseguiu livrar a frente, mas o impacto na lateral, na altura do pedal de freio, foi inevitável. O animal morreu na hora, mas não sem antes bater no pé da garupa, que só não sofreu uma fratura por estar de bota. Depois dessa, parada obrigatória no hospital de Itamaraju: pé devidamente imobilizado e seguimos viagem.

Chegamos ao Prado ainda cedo, e como sempre, o “circo” estava muiiiito bem armado. Acarajé e água de coco na recepção do evento, e bastava dar uma olhada na área dos shows e das lojas para se ter certeza que a cada ano esse Encontro fica melhor. Arrisco, inclusive a dizer, que vem gente do país inteiro, com presença marcante do pessoal do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Reluzentes super bikes, chamativos triciclos, custons brilhando, aventureiros em suas trails, “bichos grilo" em qualquer coisa de duas rodas que se movimente e pequenas 125/150 completavam a babel de máquinas e tipos. Todos convivendo em perfeita harmonia, unidos pela incrível capacidade de agregação causada pela adoração à motocicletas.

Com seu perfil de litoral baiano totalmente modificado, Prado, à noite, parecia cena de filme: bares, restaurantes e a área do evento completamente lotada. Motos enfileiradas em quase 1 km dos dois lados da rua, e gente com alegria impressa no rosto. Shows de alto nível do bom e velho rock in roll começavam as 7 e iam até duas da manhã sem nenhuma confusão, com infra-estrutura de segurança local muito bem organizada.

No sábado, combinamos um almoço no mercado local para degustar uma típica comida nordestina: sarapatel, e entre uma garfada e outra, planejamos o retorno. Se viemos por asfalto, por que não voltarmos off road?

Por mais que meu Moto Clube seja de maioria estradeira, contamos com alguns membros mais antigos aficionados por estrada de terra. Eu e mais dois bons amigos, fazemos parte desse grupo que soma mais de um século nas motos de pára-lama alto e por isso mesmo, nos tratamos por véio, véinho e veião. A sugestão foi imediatamente aceita por nós três. Voltaríamos para Porto Seguro pelo caminho conhecido como Costa do Descobrimento, que segundo alguns historiadores, é exatamente o lugar onde começou a história do colonizador (ou invasor) aqui no Brasil.

Noite bem dormida, e no café da manhã, enquanto fazíamos arranjos finais, eis que surge uma figuraça (no melhor dos sentidos): Dr. Alípio, de Cabo Frio (RJ), em uma Super Ténéré, totalmente desprovido de experiência em off road, mas juntou-se a nós assim mesmo, sem fazer idéia do que vinha pela frente. Juntando os “véios”, os pernambucanos e o Dr., éramos três 660, duas Super e a Falcon do Marvic, que tinha ido de TDM mas trocou com um amigo em Prado e voltou de Honda, a única estranha no ninho "diapasonico".

Apesar de várias passagens pela estrada que liga Prado à Cumuruxatiba, não me canso de chamá-la de fantástica. Mesmo estando recém “patrolada” ninguém abusou da velocidade, exatamente para poder observar sua beleza.

O trecho de Cumuru à Corumbau estava em condições bem piores, o que não foi problema para ninguém. Pelo contrário, quem gosta de off road adora esses desafios, percorremos com tranqüilidade, o tempo todo, acompanhados pelo visual do Monte Pascoal. A ligação entre Prado e a Ponta de Corumbau, que tem aproximadamente 120 km, foi completado em mais ou menos 3 horas. Parada obrigatória para uma água, porque, por mais que seja um trecho curto, a tocada até Caraíva é de puro areão.

Passamos pela aldeia indígena da Barra Velha e daí para, em minha opinião, a mais bela vila do sul da Bahia: a encantadora Caraíva, com suas ruas de terra/areia onde é proibido circular com qualquer veículo que não tenha patas, tanto que quem chega de carro, tem que deixá-lo em estacionamentos do outro lado do rio.

No meio de todo esse fascínio, eu e mais dois "compramos terrenos". Ainda bem que foi devagar e em Caraíva, onde nada tem o poder de te irritar ou tirar o seu bom humor alem de ter o metro quadrado mais caro da região.

Pela frente, tínhamos que atravessar um rio, e após dura negociação com os canoeiros assustados com o tamanho das Super, para travessia (R$15 por moto), partimos em direção à Trancoso, com Arraial D’Ajuda na seqüência.

Depois de 220 km rodados, chegamos à Porto Seguro ainda muito cedo, começo da noite. Nesse momento amargo confirmo o maior defeito desse Encontro: é perto demais!!!!!

Umas pizzas e algumas cervejas selaram as novas amizades e consolidaram outras, e mais uma vez, tivemos a clareza do quanto nossas motos, além de aproximar pessoas, nos fazem revigorar nossas essências.

Só me resta o consolo de saber que no ano que vem tem mais.

Até lá

Autor: Roberto "Atobá"

51 anos, motociclista a 32

Membro fundador dos Navegadores MC de Porto Seguro amante de aventuras em 2 rodas em viagens dentro e fora do asfalto.

Contato: atobapousada@terra.com.br

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