Diário de Bordo
Internacional
Olá, pessoal! Sou eu, Genaldo, professor de Ed.Física, outra vez aqui pra narrar mais uma viagem de moto 125 pra vocês. Desta vez viajei com uma Factor 2010, porque a minha velha companheira YBR ano 2000 foi roubada na entrada de Bolford Roxo logo após uma viagem a Rorainópolis – RR de 9.935km em 2010.
Comprei então, essa Factor e no ano passado fiz a primeira viagem com ela. Fui a Canoa Quebrada no Ceará, mas voltei logo, pois tinha que fazer um concurso público. Fiquei devendo esse relato pra vocês, mas constará no livro que estou escrevendo sobre minhas viagens de moto 125. Mas vamos logo para a viagem de 2012.
Tinha a pretensão de visitar o Acre e o Amapá, para completar a visita a todos os Estados brasileiros com uma moto 125 cc. Mas aproveitei, já que ia ao Acre, para trafegar pela Estrada do Pacífico e visitar o Peru. Durante a viagem mudei os planos e deixei o Amapá para outra viagem, porque resolvi voltar pelo Nordeste e visitar meus parentes por lá. Como a viagem era longa resolvi sair ainda em dezembro de 2011, no dia 26.
Como sempre, tudo preparado, pneus novos, moto revisada e lavada a espera que amanhecesse o dia 26. E amanheceu chovendo bastante. Saí com capa de chuva às 05h35 e segui pela BR 040. Parei muitas vezes para colocar e tirar a roupa de chuva. Foi um início de viagem cansativo. Durante a tarde o céu abriu e consegui rodar 898km e parar pra dormir em Santa Juliana – MG às 21h00. Como podem perceber rodei um pouco durante a noite, pois a estrada estava muito boa e eu sabia que a viagem era longa e teria que manter uma quilometragem alta a cada dia.
No segundo dia (27/12/11), saí de Santa Juliana – MG às 05h15, ainda no escuro e rodei um dia inteiro sem chuva, o que foi uma maravilha. A única chuva que peguei foi de mosquito no final do dia. A viseira ficou tão suja que estava difícil enxergar com tantos mosquitos agarrados. Encerrei o dia com 943km rodados na cidade de Rondonópolis - MT.
No terceiro dia (28/12/11), saí de Rondonópolis - MT às 05h40 do hotel Santa Fé do Sul, onde me cobraram um pernoite de cinquenta reais. Achei caro e comecei a pensar que se continuasse pagando caro pelos pernoites, poderia comprometer o meu planejamento financeiro. Mas segui viagem sem maiores preocupações, apenas o cansaço de início de viagem que se apresentou, mas não dei bola pra ele. Nesse dia troquei o óleo da moto e ainda pela manhã durante uma parada para um lanche em uma barraquinha de beira de estrada, conheci três viajantes de moto. Eles pararam logo depois de mim e vieram ao meu encontro, quando viram minha moto com bagagens e a bandeira do meu moto clube “Sempre 80km/h” de Nova Iguaçu. Os três estavam de Teneré 250cc da Yamaha, eram de Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo e estavam, por coincidência, indo também para Cuzco no Peru. Convidaram-me para seguir junto com eles, mas recusei, pois, iria atrapalhar o andamento deles, tendo que andar um pouco mais devagar para me esperar com minha 125 cc. Saímos juntos e rodei alguns minutos junto com eles, porque pegamos um trânsito um pouco carregado de carretas e uma pequena serra. Logo que o trânsito melhorou, eles abriram distância. Então, segui como sempre minha viagem solitária. Parei para dormir às 21h35 no hotel Porto Alegre na cidade Comodoro – MT com 878km rodados. Tripulação (eu) e a viatura sem problemas até o momento.
No quarto dia (29/12/11), saí às 05h15 de Comodoro – MT e segui sem ocorrências nesse dia. Rodei um pouco mais devagar para apreciar melhor as belas paisagens, a flora e a fauna, pois algumas vezes tive a sorte de ver famílias de araras e até tucanos voando baixo paralelamente a pista. Nestes momentos eu reduzia ainda mais a velocidade para apreciar melhor as belezas naturais que Deus nos deu. É muito bonito ver aves tão belas voando assim livres no seu habitat natural. Encerrei um ótimo dia de viagem, com céu azul e natureza ezuberante na cidade de Candeias do Oeste – RO com 820km rodados.
No quinto dia (30/12/11), saí cedo de Candeias do Oeste – RO e segui com intenção de chegar até a cidade Assis Brasil na divisa com o Peru. Mas, fui forçado a parar em uma oficina de motos na cidade de Capixaba no Acre para tirar um elo da corrente que já estava na última regulagem. Não a troquei porque a relação que comprei na autorizada Yamaha veio com uma coroa de 43 dentes, o que fez a corrente alcançar a última regularem com menos de 6.000km. Corrente com um elo a menos, segui viagem e pegando muita chuva consegui chegar até Brasileia – AC, com 740km rodados. À noite tirei algumas fotos na ponte que liga o Brasil à Bolívia e vi também a cidade tomada de Haitianos, que estão fugindo do Haiti para tentar uma vida melhor aqui no Brasil. Duas semanas depois vi reportagens sobre a situação dessa grande entrada de Haitianos no Brasil.
No sexto dia (31/12/11), último dia do ano. Eu estava ansioso para cruzar logo a fronteira e passar o réveillon em Puerto Maldonado no Peru. Saí cedo e fui tomar café na cidade de Assis Brasil, onde procurei uma oficina de motos para trocar o óleo do motor. Logo depois voltei para a Alfândega, que fica, estranhamente antes da cidade de Assis Brasil (que é brasileira) para apresentar os documentos. Então segui para a divisa de países e na aduana Peruana apresentei os meus documentos, troquei R$ 1.000,00 por 1.250 nuevos soles, moeda peruana, que está muito valorizada, o que não me deixou muito feliz, restava saber se as coisas seriam baratas por lá. Passaporte carimbado e dinheiro no bolso, acelerei rumo a Puerto Maldonado. Asfalto bom, estrada muito bonita, cortando a floresta amazônica peruana. Até parei para tirar umas fotos, principalmente de umas árvores que impressionam pelo tamanho. Percebi que ia ter dificuldades com a língua logo no primeiro posto de gasolina. A frentista não entendia o que eu falava e nem eu a entendia, mas consegui abastecer e segui em frente. Num calor infernal, cheguei a Puerto Maldonado por volta das 13h00 com 4.644km rodados desde Mesquita – RJ. Fiquei rodando alguns minutos naquele trânsito barulhento de motos velhas e aqueles táxis triciclos que entulham o trânsito, tentando encontrar um hotel. Consegui me hospedar num hotel próximo do centro, não sem sofrer um pouco com o espanhol deles. Guardei as bagagens no quarto e saí para almoçar. Depois de não entender nada dos cardápios dos restaurantes e muito menos as explicações dos garçons, resolvi fazer apenas um lanche. Péssima ideia. Depois vou dizer porque. Comprei uma espécie de esfira num vendedor ambulante de bicicleta, sem saber qual era o recheio, pois não sabia que pollo, (pronuncia-se: pôio) que o vendedor estava dizendo era frango. Ele não vendia nada para beber, então entrei num bar e comprei uma bebida estranha, tipo um refrigerante. Percebi que as coisas no Peru não são baratas e que deveria cuidar para não ficar sem dinheiro por lá. Tomei um banho e descansei por uns quarenta minutos apenas e saí para conhecer a cidade e tirar algumas fotos. Dei uma volta pela cidade num daqueles táxis triciclos, barulhentos e duros. Por cinco soles fiz um tour pela cidade. Estava planejando ver a virada do ano ali em Puerto Maldonado e no dia seguinte seguir para Cuzco de moto. Mas, resolvi mudar de planos após fazer algumas contas de tempo e de dinheiro. Fiquei sabendo que sairia ainda naquele dia um ônibus às 19h30 para Cuzco e ia fazer a passagem de ano nas alturas das Cordilheiras dos Andes e chegar a Cuzco por volta das 07h00. Mudei os planos, fui à rodoviária, comprei a minha passagem, voltei ao hotel, combinei com o dono para guardar a minha moto até a minha volta de Cuzco, de onde pretendia visitar as ruínas de Machu Picchu. A noite peguei o ônibus e antes de embarcar comi uma espécie de batata doce frita, que comprei com uma vendedora ambulante na rodoviária e uma garrafa de água mineral. Estava tão cansado depois de seis dias em cima da moto que pensei que dormiria a viagem toda. Logo percebi que não seria nada fácil. Sentou-se do meu lado uma peruana gorda e não muito cheirosa e ainda com uma criança de uns 5 anos. Foi logo me espremendo. Tentei conversar com ela mas não fui bem sucedido. Percebi que eu era o único estrangeiro naquele ônibus. O calor era grande e todas as janelas estavam fechadas, então abri a minha para respirar um pouco de ar puro. Consegui dormir até umas onze horas da noite e fiquei observando o que iam fazer quando acontecesse a virada do ano novo. Dentro do ônibus nada fizeram, ninguém comemorou. Apenas a moça que trabalhava dentro do ônibus abraçou em silêncio umas três ou quatro pessoas que parece que ela já as conhecia e mais nada. Um silêncio total. Muitos dormiam sem ligar a mínima para a passagem de ano novo. Consegui dormir mais um pouco e acordei por volta das três da madrugada com vontade de vomitar. Abri a janela e botei tudo pra fora, aquele salgado que comi na hora do almoço e a batatinha que comi na rodoviária. Pra acabar de completar o intestino deu sinais de que nada estava bem. Segui passando mal até a chegada a Cuzco.
No setimo dia - Já pela manhã quando respirava um ar puro pela janela aberta percebi uma montanha muito bonita com seu pico coberto de neve. Foi a primeira vez que vi neve, mas estava tão mal que não tive condições de pegar a máquina fotográfica para registrar tão bela paisagem. Dei graças a Deus quando desci na rodoviária de Cuzco. A rodoviária era feia, a cidade até aquele ponto também muito feia. Peguei um táxi velho e fedorento até a Praça das Armas, onde não escolhi muito e fiquei logo no segundo hotel que perguntei o preço. O dono do hotel me ofereceu chá de coca para melhorar da diarréia. Ainda passei aquele dia inteiro com diarréia, mas consegui andar pela cidade, conhecer alguns pontos turísticos e tirar algumas fotos.
Oitavo dia - No dia seguinte, já bem melhor do intestino fiz um passeio turístico por alguns sítios arqueológicos próximos a Cuzco. Conheci dois brasileiros que estavam no mesmo hotel e foram numa falcon e numa Saara. Me disseram que sofreram um bocado pra chegar. Aí percebi que tomei a decisão certa de não subir sozinho as Cordilheiras com uma moto 125 cc. Em resumo, não gostei da cidade, não tinha muito com quem conversar, as coisas eram caras, fazia muito frio a noite, havia previsão de chuvas fortes para aqueles dias e teria que ficar por pelo menos mais dois dias se quisesse visitar as ruínas de Machu Picchu. Resolvi voltar para o Brasil. Não existe lugar melhor do que o nosso País. Dois dias em Cuzco, foram suficientes para eu não gostar de lá. A viagem de volta não foi tão ruim, pois, já tinha melhorado do intestino. O ônibus saiu por volta das 20h30 do dia 02/01/12 debaixo de um temporal e seguiu rodando pelas Cordilheiras de muitas curvas perigosíssimas e a todo momento havia queda da barreiras na pista. Por volta das cinco e poucas da manhã o ônibus atolou. Uma grande queda de barreira deixou a pista coberta de lama, que já estava sendo desobstruída, mas ainda estava muito difícil de passar. Tivemos que descer para empurrar o ônibus. Foi uma confusão danada, muita gente se sujou de lama, mas conseguimos empurrar o nosso ônibus. A viagem atrasou em mais de uma hora.
Nono dia - Em Puerto Maldonado peguei minha moto às 13h00 e tratei logo de me mandar para o Brasil. Logo nos primeiros quilômetros começou a desabar o mundo em forma de chuva. Na fronteira carimbei o passaporte de volta, troquei o dinheiro que sobrou e debaixo de um dilúvio voltei para as Terras brasileiras. Encerrei o dia com 506km rodados em Capixaba – AC.
No décimo dia (04/01/12), saí às 05h35 de Capixaba – AC e rodava tranquilamente em direção ao Estado de Rondônia, quando logo após uma parada na beira da pista, para tirar a jaqueta, ouvi um estalo. Pensei que fosse o descanso que as vezes esqueço de levantá-lo. Continuei rodando. Após uns 30 minutos, trac, trac, mas dois estalos. Percebi que tinha alguma coisa grave acontecendo. Por sorte estava a menos de um quilômetro da entrada da cidade Extrema – RO. Encostei a moto no posto de gasolina que havia ali e descobri que a corrente havia partido em um dos lados da emenda. O frentista me disse que em Extrema tem autorizada da Yamaha a menos de quinhentos metros de onde eu estava. Fui rodando bem devagar até lá, onde troquei a relação e pude seguir viagem. Encerrei o dia em Ariquemes – RO com 772km.
No décimo primeiro dia (05/01/12), saí de Ariquemes – RO às 05h40 e com tempo sem chuva, consegui rodar bastante nesse dia. Quando anoiteceu percebi que o painel da moto tinha apagado por completo. Dei um jeito amarrando uma lanterninha de bolso que carrego na poxete, no painel da moto e com a moto andando acendia a lanterna e apontava para o painel para ver a quilometragem. Encerrei o dia em Porto Espiridião – MT com 930km.
No décimo segundo dia (06/01/12), saí de Porto Espiridião às 05h35. Rodei sem problemas pela manhã. Por volta das duas horas da tarde parei num posto de gasolina, abasteci e troquei o óleo do motor. Assim que voltei para a estrada percebi um tatu saindo de uma lavoura de soja do outro lado da pista e seguiu correndo para atravessar, rapidamente buzinei pra ver se o tatu desistia de atravessar, mas não adiantou, ele seguiu atravessando. Eu já com os freios puxados tentei evitar o pior, mas infelizmente não consegui e atropelei o pobre do tatu que morreu na hora. A moto ficou descontrolada, mas consegui controlá-la para não cair. Foi a primeira vez que atropelei um animal silvestre durante todas as minhas viagens. Fiquei muito triste. Eu sei que a maioria dos atropelamentos de animais silvestres acontece à noite. Então, não esperava aquele tatu, em plena luz do dia aparecer na minha frente. Daí por diante fiquei muito mais atento na estrada. Ainda pensando no tatu, fui surpreendido novamente, mas desta vez por uma chuva muito forte que caiu tão de repente que não consegui vestir a roupa de chuva a tempo de não me molhar. Então, fiquei mais aborrecido e chateado que resolvi parar por volta das 16h00 em Campo Verde – MT com apenas 500km rodados. Aproveitei pra secar minhas roupas no varal do hotel. Depois fui a pé conhecer a cidade e jantar. Constatei que Campo Verde é uma cidade muito bonita, bem organizada, muito limpa e tem uma das praças mais bonitas que já vi na minha vida. Nessa praça tem até uma torre de 40m de altura de observação turística com vista panorâmica da cidade. Parabéns aos moradores e à Prefeitura de Campo Verde- MT.
No décimo terceiro dia (07/01/12), saí de Campo Verde às 06h15, rodei o dia todo sem chuva e sem atropelamentos. Encerrei o dia em Anápolis – GO com 800km rodados. Tripulação (eu) passando bem e viatura ok, apenas com o painel apagado.
No décimo quarto dia (08/01/12), saí às 06h30 de Anápolis e segui mais um dia sem ocorrências. Eu esqueci de explicar que não voltei do Peru direto para o RJ e sim fui visitar meus parentes no Estado da Paraíba. Ao entrar no Estado da Bahia fiquei mais feliz porque o Nordeste é a melhor região pra se viajar. Come-se bem e barato nas estradas e temos muita variedade de comidas e frutas. Encerrei o dia em São Desidério – BA com 757 km. Tripulação e viatura ok.
No décimo quinto dia (09/01/12), saí às 05h30 de São Desidério – BA, peguei muitas retas, onde pude andar acima de 100km/h algumas vezes. Estava bem animado por estar no Nordeste e saber que no final daquele dia eu alcançaria a BR 101 que já é minha velha conhecida de outras viagens. Me surpreendi quando percebi que bati meu Record de km percorridos num único dia. Percorri 1047 km e encerrei o dia em Estância – SE por volta das 20h30. Abasteci e fui direto ao hotel Jardim, meu velho conhecido.
No décimo sexto dia (10/01/12), saí às 05h30 de Estância e acelerei com vontade. Era o oitavo dia de viagem desde Puerto Maldonado. Meu destino era Campina Grande – PB para visitar minha vó Virgínia, que ficou viúva no ano passado, minha tia Lúcia e outros parentes por lá e também em outras cidades como: Lagoa Nova, Lagoa de Roça, Santa Rita e Cabedelo. Cheguei a Campina Grande às 15h40, com 653 km rodados.
Curti um pouco do Nordeste, suas comidas, sua gente, seu clima e depois de cinco dias por lá retornei para Mesquita – RJ. Não sem antes fazer uma boa revisão na moto na autorizada Via Leste Yamaha de Campina Grande, onde mandei trocar a caixa de direção, vela, óleo, bateria (que estragou) etc. Gastei três dias de viagem de volta pela BR 101. No primeiro dia fui até Alagoinha – BA, no segundo dia até São Mateus – ES e no terceiro dia cheguei a minha casa às 18h15 em Mesquita - RJ.
Mais uma vez encerrei uma grande viagem (essa foi a maior de todas até o momento) de moto 125, sem maiores problemas, graças a Deus. Para quem gosta de números, foram: 13.721km rodados em 17 dias sobre a moto e um total de 25 dias fora de casa. O melhor de tudo isso é que foram muitas paisagens, muitas aventuras, muitos acertos e alguns erros, muito cansaço, poeira, calor, vento e chuva. Tudo isso fica marcado pra sempre na memória de quem se aventura em viagens desse tipo. Abraço a todos. Fiquem com Deus e até a próxima.
Autor: Genaldo Lial da Silva
Contato: genaldosilva34@yahoo.com.br
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